Gracia Mendes Nasi (Graça ou Gracia é o Português arcaico e espanhol para o hebraico Hannah, também conhecida pelo seu nome cristianizado Beatriz de Luna Miques, 1510-1569) foi uma das mais nobres mulheres judias da Europa renascentista. Ela casou-se com o banqueiro internacional e da eminente dinastia de financiamento da família Mendes, e foi a tia de Joseph Nasi, que se tornou uma figura proeminente na política do Império Otomano.
Poucas figuras na história judaica, especialmente na Idade Média, desempenharam um papel tão inspirador e benéfico para os seus compatriotas judeus, como a nobre judia Senhora Dona Graça.
As lendas que teceram em torno desta extraordinária personalidade são inumeráveis, mas os fatos históricos comprovam que ela era de fato uma personalidade marcante. Milhares de marranos e outros judeus perseguidos a chamavam por outro nome, “Nosso Anjo”.
Dona Graça nasceu em Portugal no início do século XVI, na família nobre dos Benveniste, que haviam chegado da Espanha após a fuga da Inquisição. Ela mesma era de família rica e havia se casado com o ainda mais rico Francisco Mendes-Nassi, membro de uma das maiores empresas de comércio internacional e serviços bancários em todo o mundo. Quando o marido morreu, ainda jovem, Dona Graça decidiu sair de Portugal, juntamente com seu único filho Reina e vários outros parentes. Foi para Portugal, começando a sentir o braço forte da Inquisição, que tornou a vida insuportável para os marranos, as pessoas que, como Dona Graça, viviam secretamente como bons judeus, mas haviam adotado a Igreja Católica para salvar manter as aparências, na esperança de uma chance de escapar.
Embora Dona Graça teve que deixar uma parte considerável de sua enorme riqueza para trás, ela fugiu de Portugal e estabeleceu-se em Antuérpia(segunda cidade mais populosa da Bélgica), onde seu cunhado, Diogo era o chefe da sucursal da empresa Mendez-Nassi, que tinha conexões com a maioria dos tribunais europeus .
Muitos outros marranos foram chegando à capital da Flandres(Região entre França Bégica e Holanda) para construir novas casas, mas os braços poderosos da igreja começaram a ser sentidos alí, e os marranos descobriram que tinham que ser ainda mais cuidadosos afim de se aparecerem como bons cristãos, em vez perder a liberdade que tinha procurado quando fugiram da Espanha e de Portugal.
Dona Graça (ou Beatriz de Lune, como ela era conhecida por seu nome Marrano não-judeu), era uma mulher de extraordinária beleza, cultura e riqueza. Ela era muito respeitada pelos nobres e influentes do mais alto escalão na França, Flandres e outros países com os quais os estabelecimentos Mendez negociavam. Mas, sendo uma boa judia, ela odiava a cada momento que ela tinha de esconder seus verdadeiros sentimentos, e ela se sentia muito desconfortável em seu disfarce.
Ela começou a fazer planos para ir a Antuérpia(Bégica) para um país livre, especialmente após a morte de seu cunhado. Suspeitando que ela planejava sair com toda sua riqueza. O imperador Carlos V tentou tomar sua fortuna. Mas Dona Graça teve sucesso em deixar a região para a Antuérpia, em 1549, com a filha, e a sua riqueza.
Juntos, eles viajaram para Veneza, de onde muitos navios partiam para terras distantes, onde os judeus não precisa ter medo de viver abertamente de acordo com sua religião. Assim como seu sobrinho, o famoso D. José Nassi, que já havia encontrado um refúgio na Turquia e se tornou um dos mais poderosos homens da Europa, como ministro do Sultão, ela pretendia ir a Constantinopla. Mas ela tinha que esperar alguns anos, ansiosa antes que ela pudesse viver em liberdade e novamente ter posse de sua enorme riqueza.
O rei da França, uma ferramenta de vontade da igreja, estava muito irado com ela por ter ido para Antuérpia, e mais ainda por ela tirar o máximo proveito de sua riqueza antes que ele pudesse encontrá-la. Na sua instigação, e por causa dos comentários descuidados de sua própria relação, os governadores de Veneza colocaram ela e sua família na prisão, e confiscaram sua enorme riqueza antes que ela pudesse embarcar para a Turquia.
Mas então Don José Nassi usou sua influência com o sultão turco que estava muito feliz por conseguir uma desculpa para começar a problemas com os concorrentes comerciantes venezianos. Seu governo enviou um emissário especial para Veneza com o pedido de liberação da mulher marrana e sua riqueza. Mas levou dois anos de negociações e ameaças de guerra real, até que o mesmo fosse efetuado. Dona Graça foi liverta. Ela e sua filha residiram temporariamente em Ferrara, onde retornou abertamente a sua religião judaica.
Foi em Ferrara que ela publicou a primeira Biblia em Ladino(Português e Espanhol Arcaico compreendido pelos Judeus da Península Ibérica), a famosa Bíblia de Ferrara.
Até 1552, Dona Graça se estabeleceu em Constantinopla, onde formou um centro de todo o mundo para ajudar os judeus marranos no sofrimento. Sua fortuna foi utilizada não só para as empresas, mas para comprar os favores dos príncipes, abrindo muitas portas para os perseguidos.
Em 1556, o Papa condenou um grupo de marranos que voltou ao judaísmo em Portugal até à morte pelo fogo. Em resposta, Dona Gracia organizou um embargo comercial no porto de Ancona, nos Estados Pontifícios.
Ela promoveu a cultura judaica, e poetas escreveram muitas poesias contando suas realizações, como patrona e ajudante de judeus naqueles dias sombrios. Ela construiu sinagogas, sedes de Yeshivoth(Seminários) e bibliotecas, e apoiava acadêmicos e estudantes da Torá. Ela ajudou a reassentar centenas de marranos, para lhes permitam voltar à sua fé judaica.
Em 1558 ela arrendou Tiberíades, na Terra Santa, das mãos do sultão Suleiman, pagando uma taxa anual de 1000 ducados e, em 1561, Joseph Nasi obteu a autoridade sobre Tiberias e Safed, ajudando no desenvolvimento de grandes centros de novos assentamentos judaicos naquela região.
Dona Graça Nasi faleceu próximo a Istambul(Constantinopla).
Gracia Nasi morreu perto de Istambul.
Bibliografia
- Chabad
- Marianna D. Birnbaum, 2003: The long journey of Gracia Mendes
- “Nasi, Gracia”, in The Encyclopaedia Judaica
- Andrée Aelion Brooks, The Woman Who Defied Kings, Paragon House, 2002
- Gad Nassi, Rebecca Toueg, Doña Gracia Nasi, Women’s International Zionist Organisation, Tel Aviv, 1990
- Cecil Roth, Dona Gracia of the House of Nasi, The Jewish Publication Society of America, Philadelphia, 1948