O Salmo 27, de Davi, constitui um dos mais belos cânticos de fé e um antídoto forte e poderoso contra o medo, o receio, a dúvida, o desânimo, a fraqueza, a insegurança e outros identificados e desafiantes gigantes da alma. De início, o salmista proclama confiantemente: יְהוָה אוֹרִי וְיִשְׁעִי מִמִּי אִירָא
יְהוָה מָעוֹז-חַיַּי, מִמִּי אֶפְחָד. – “Ieováh orí vê-ishíí, mi-mi iráh”? “Ieováh maoz-Há’iai mi-mi éf’Had”? – O Senhor é a minha luz e minha salvação, a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida, de quem me recearei? O Salmo 27 descortina-se e revela para todos a exaltação do Senhor como luz, salvação e força. Se Davi encerrasse o seu poema épico e bélico aqui, praticamente, não precisaria acrescentar mais nada! Ora, LUZ fala de iluminação, clareza, conhecimento, expulsão das trevas, esperança sobre o vale da morte e também expressa o poder da ressurreição daquele que disse: “Eu Sou a Luz do Mundo”! Isso bastaria também, mas a riqueza consubstanciada no 1º versículo fala de salvação”! É a idéia geral de “Ieshuáh” – com o sentido de salvação, libertação, livramento, proteção, defesa, auxílio, socorro, vitória, triunfo. Bastaria lembrar: “Ieshúah” = Jesus, o que salva! E vem a terceira palavra, FORÇA, “maoz”! No sentido de força (óz), refúgio, resguardo, asilo, abrigo, proteção, defesa, amparo, salvaguarda, tutela, cidadela, fortaleza, baluarte, porto, elmo, capacete!
No momento, o objetivo é falar, também, do versículo 3: אִם-תַּחֲנֶה עָלַי, מַחֲנֶה לֹא-יִירָא לִבִּי
אִם-תָּקוּם עָלַי, מִלְחָמָה בְּזֹאת, אֲנִי בוֹטֵחַ. – “Im-táHanê alai maHanê ló-iráh libí; im takum alai mil’Hamáh bê-zot, aní votéârh” –“Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nele confiaria”(‘eu confio nele’!).
Notoriamente sabido, Davi era homem de guerra, contra animais ferozes e ferozes homens-animais que se levantavam constantemente contra ele; sim, reinos e nações que se amotinavam contra o rei de Israel. Em I Samuel 16:16, ainda jovem, foi identificado como valente, animoso, homem de guerra e “sisudo em palavras” – essa estranha declaração final em português, no hebraico é נְבוֹן דָּבָר – “Nevônn Davar”, inteligente, lógico, um tipo de sabedoria com astúcia, sagacidade, como na cena diante do rei Aquis… I Samuel 21:10-15. Outra prova disso ocorre em I Samuel 23:22, quando o próprio rei Saul disse: “porque me foi dito que é astutíssimo.” O hebraico, que é uma língua lógica, como diria o “Obama”, o cuxito, o profeta Sofonias (3:9- שָׂפָה בְרוּרָה – Safáh Vê-Ruárh “língua pura, inteligente”), resume o que disse Saul: (עָרוֹם יַעְרִם) “Arômm Iarîmm” – esperto, sagaz (“liso” como alguém nu”!). Pois bem, o então iniciante Capitão do QG – Caverna de Adulão – מְעָרַת עֲדֻלָּם – ‘Mearat Adulâm’ (com homens que se achavam em aperto, endividado, com espírito desgostoso – I Samuel 22:1-2), pouco a pouco foi crescendo e adestrando-se na vida militar. Deus estava sempre presente em todas as circunstâncias que envolviam a vida de Davi. Ele, também, podia dizer como Paulo: “já sei, aprendi e estou instruído” – Filipenses 4:11-12. Assim é que, fazendo citação de guerra contra ele nas suas mais variadas formas, faz menção de duas palavras principais: מִלְחָמָה – מַחֲנֶה – “MaHanê e Mil’Hamáh”.
MaHanê apresenta a visão de um acampamento de guerra nos seus preparativos militares, aprontando-se para atacar no momento exato e da melhor maneira possível; MaHanê também representa os rumores de guerra, a movimentação das tropas nos seus mais variados objetivos para a hora do ataque. Ora, Davi, recebendo informações dos seus serviços secretos do que se estava armando contra ele, nada temia. A grande jogada do inimigo é lançar, previamente, o pavor, o medo, os preparativos venenosos, os rumores introduzidos por expressões como “falaram”, “disseram”, “vão arrebentar você”, etc. Constantemente, se ouve: “prepare-se, porque alguém está tramando contra você” ou “alguém tem uma carta na manga ou um dossiê”. As notícias do inferno vêm como uma flecha incendiária para atemorizar, mas, como lembra o Salmo 112:7 – “Não temerá maus rumores; o seu coração está firme, confiando no Senhor”. Deus é soberano sobre todas as ameaças do inimigo – “há um maior conosco”, II Crônicas 32:7-b. Veja I João 4:4.
O intento do inimigo é o da explosão final! Davi usa o termo Mil’Hamáh, ou seja, a explosão da guerra. Às vezes, o inimigo faz toda a armação e recua nos seus intentos finais; quase sempre, no entanto, leva a cabo os seus ardilosos propósitos, porém, como adverte Paulo, “as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas” (II Coríntios 10:4)! Veja ainda, Provérbios 21:22.
Em Deus, combate-se o inimigo em condições de vantagem! Contra o “maHanê ou mil’Hamáh” do inimigo, tem-se, por exemplo, aquilo que disse Jacó em Gênesis 32:3b quando viu a tropa celestial em movimento, deslocando-se, ou seja, a Tropa ou o Exército de Deus (מַחֲנֵה אֱלֹהִים – MaHanê Elohim): “Há-Húh MaHanaîm” (הַהוּא מַחֲנָיִם) – “aquele são dois exércitos em confronto”! O Exército de Deus é sempre vitorioso e indestrutível, pois “Ísh Mil’Hamá” (אִישׁ מִלְחָמָה), Homem de Guerra é Jeováh! E-MAIL: alsacramento@uol.com.br (*) Membro da Academia de Letra da Grande São Paulo.