Após mais de duas décadas de pesquisa bíblica e arqueológica, seja em campo ou através da literatura acadêmica, tudo indica que Serabit el-Khadem é o melhor candidato para o título de Sinai Bíblico. Apesar de também estar ao sul da península do Sinai, está bem mais próximo das antigas rotas que passam pelos grandes desfiladeiros conhecidos como Wadis ou Wadiot em Hebraico.
Serabit el-Khadim (árabe: سرابيط الخادم pronúncia árabe: [saraːˈbiːtˤ alˈχaːdɪm]; também transliterado Serabit al-Khadim, Serabit el-Khadem) é uma localidade no sudoeste da Península do Sinai, Egito, onde as turquesas foram extraídas extensivamente na Antiguidade, principalmente pelos antigos egípcios e os semíticos. Escavações arqueológicas, inicialmente feitas por Sir Flinders Petrie, revelaram antigos campos de mineração e um antigo Templo de Hathor, a deusa egípcia que era favorita como protetora nas regiões desérticas.
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Entendendo a importância de Serabit el-Khadem
Trinta inscrições entalhadas em uma “escrita proto-sinaítica” lançam luz sobre a história do alfabeto, sem dúvida alguma, em Serabit el-Khadem o alfabeto semítico que deu origem ao nosso alfabeto começou. Serabit el-Khadem é um lugar de minas que eram exploradas por prisioneiros de guerra do sudoeste da Ásia que presumivelmente falavam uma língua semítica do noroeste, como o Cananeu, o ancestral do Fenício e do Hebraico. Após um século de estudo e a publicação inicial de Sir Flinders Petrie, os pesquisadores concordam na decifração de uma única frase, decifrada em 1916 por Alan Gardiner: לבעלת l bʿlt (para a Senhora) [baʿlat (Senhora) sendo um título de Hathor e o feminino do título Baʿal (Senhor) dado ao deus semita], embora a palavra m’hb (amado) seja freqüentemente citada como uma segunda palavra.
A escrita tem semelhanças gráficas com a escrita hierática egípcia, a forma menos elaborada dos hieróglifos. Nas décadas de 1950 e 1960, era comum mostrar a derivação do alfabeto cananita do hierático, usando as interpretações do proto-sinaítico de William Albright como chave. Era geralmente aceito que o idioma das inscrições era semítico, que a escrita tinha um protótipo hierático e era ancestral dos alfabetos semíticos e que a própria escrita era acrofônica e alfabética (mais especificamente, um alfabeto consonantal). A palavra baʿlat (Senhora) dá crédito à identificação da língua como semítica. No entanto, a falta de novos avanços na decifração lança dúvidas sobre as outras suposições, e a identificação dos protótipos hieráticos permanece especulativa.
Romanus Francois Butin, da Universidade Católica da América, publicou artigos na Harvard Theological Review com base na Missão de Harvard a Serabit de 1927 e na Expedição Conjunta de 1930 da Universidade Católica de Harvard. Seu artigo “As inscrições de Serabit: II. A decifração e o significado das inscrições” fornece um estudo detalhado das inscrições e algumas dezenas de fotografias em preto e branco, desenhos à mão e análise das inscrições publicadas anteriormente, # 346, 349, 350 –354, e três novas inscrições, # 355–368. Naquela época, o nº 355 ainda estava no local em Serabit, mas não havia sido fotografado pela Missão de Harvard anterior. Em 1932, ele escreveu: “O presente artigo foi iniciado com o propósito limitado de divulgar as novas inscrições descobertas pela Expedição Conjunta da Universidade Católica de Harvard a Serabit na primavera de 1930. No decorrer deste estudo, percebi que alguns sinais duvidosos nas inscrições já publicadas foram esclarecidos pelas novas lajes, e eu decidi percorrer todo o campo novamente. ” Ambos os artigos fornecem uma análise das inscrições Proto-Sinaíticas durante expedições anteriores ao local.
O dilema entre Sinai e Horebe
Quando lemos o texto Bíblico, nos deparamos com dois nomes que se referem ao local onde o Povo de Israel recebeu as tábuas da Lei, a Torah.
No Livro de Êxodo, o nome para o local do recebimento da Torah é Sinai, no Livro de Deuteronômio é Horebe, talvez este relato represente de fato um local específico na cordilheira do Sinai, diferenciando este lugar de todos os outros na península. Além disso, a outros eventos que estão relacionados com a Torah, tanto na construção do Templo por Salomão, quanto na visita a região do profeta Elias, o mesmo é chamado de Horebe.
Sinai na Arábia?
Muitos teoréticos sobre o Sinai ou Horebe ser na região da Arábia Saudita, costumam usar como base os comentários de Paulo, o Apóstolo e de Flávio Josefo, que alegaram que o monte ficava na Arábia. Mas é importante salientar que ambos viveram na segunda metade do primeiro século da EC, e não eram geógrafos, porém relataram aquilo que conheciam. A verdade que precisa ser dita é que nesta época o poderio egípcio na região já tinha enfraquecido muito, e toda a região ao sul de Israel, era controlada basicamente pelos árabes. Portanto, dizer que um monte que está na península do Sinai, está localizado na Arábia, era algo natural. Agora, transferir o Monte Sinai para uma rota inversa ao caminho natural entre o Egito e a Terra Prometida, seria loucura.
Muito já se tem pesquisado sobre a localização do Monte Sinai, e o número de pesquisadores é quase igual ao número de opiniões sobre qual seria sua localização. O maior problema com a tentativa de colocar o Sinai na Arábia Saudita é a distância e o tempo. Pois o Povo de Israel atravessa o Mar Vermelho em apenas dois dias, e se tivesse que atravessar o Mar Vermelho para a Arábia Saudita, a jornada deveria tomar quase um mês devido a grandiosidade da multidão descrita, mulheres crianças, carroças, animais e etc. Então, baseado nisso, o Monte Sinai Bíblico tem que está em algum lugar bem mais perto da montanha na Arábia Saudita ou até mesmo do Monte Santa Catarina tão comumente visitado pelos peregrinos.
Serabit el-Khadem, o Bezerro de Ouro e o Monte Horebe
- Uma das coisas que mais nos ajuda a compreender onde deveria estar localizado o verdadeiro Monte Horebe é a sua localização mais próxima ao Mar Vermelho no Golfo de Suez, sendo que uma travessia por ele, daria acesso relativamente rápido ao Monte de Deus.
- A escrita Proto-Sinaica descoberta ali, nos aproxima da escrita que os escravos semitas poderiam ter escrito, pois o Povo de Israel era, segundo a própria Bíblia, escravos no Egito.
- O Templo de Hathor, a deusa bezerro do Egito é semelhante ao bezerro adorado pelos hebreus no sopé do Sinai. Ela era considerada a deusa da proteção. Hathor costumava ser retratada como uma vaca, simbolizando seu aspecto maternal e celestial, embora sua forma mais comum fosse uma mulher usando um cocar de chifres de vaca e um disco solar. Ela também pode ser representada como uma leoa, cobra ou sicômoro. Note que alguns destes símbolos aparecem na cultura hebréia antiga.
- Serabit el-Khadem está localizada no extremo norte da cordilheira do Sinai, e uma vez parando ali, eles poderiam seguir para o nordeste, rumo a Terra Prometida, sem se complicarem, se perderem ou se encurralarem nos desfiladeiros perigosos da região mais ao sul.
- É verdade que existem outras teses relacionadas com a região norte do Sinai, e até mesmo a tese de Emmanuel Anati, que foi aceita pela própria igreja católica, como sendo o “Sinai” bíblico, mas em nenhum outro lugar encontramos indícios arqueológicos de um local de adoração em massa como em Serabit el-Khadem.
- No “Templo de Hathor” foram encontradas ao todo 35 inscrições proto-sinaicas, mas não somente em orações e pedidos a deusa Hathor, que é chamada nesta língua semítica de Baalat, ou seja, Mulher de Baal ou Mulher do senhor, mas também aparece da mesma forma duas inscrições referentes ao termo Deus. Eles também consagraram o local. Lá foram encontradas inscrições, assim como orações para “Ao Deus do Universo(Mundo)” e “Deus”, ele é o mesmo termo usado para o Deus dos Hebreus. Para entendermos melhor, neste local se adorava a Deus, e o lugar era sagrado para eles.
- As inscrições também incluem a palavra “Kini”(a mesma coisa que Queneu, um dos nomes de Jetro) – a tribo semítica que extraía metais da região e se anexou aos filhos de Israel. E se tudo isso não for suficiente para nós, então os egípcios chamavam a área da mina aqui de “a Terra de Deus” – uma frase muito próxima ao nome de “Monte de Deus”, Monte Horebe.
Pode-se adivinhar aonde todos esses fatos (não hipóteses) nos levam: este é o único local no sul do Sinai com vestígios do período próximo às jornadas dos filhos de Israel. O único lugar no Sinai e em qualquer outra parte do país onde a antiga escrita semítica foi descoberta. Era um lugar sagrado para os semitas, e deles os egípcios presenciaram e consagraram (também no Templo de Hathor perto dos “Pilares de Salomão” no Vale de Timna há um altar para os Midianitas).
Se houvesse uma fonte única e especial, uma montanha sagrada no sul do Sinai, que os semitas conheciam e está em um lugar de ruínas e árido(Horebe), para a qual o nome Horebe é lindo (ao contrário da área do Jabel Musa-Katrina), seria ousado demais para perguntar se o Monte Sinai estava aqui, teria sido aqui a entrega das leis da Torah? Seja como for, as Tábuas da Aliança foram certamente escritas na escrita semítica, a única conhecida naquela época no Sinai e em geral – a escrita proto-semitica.
Durante uma visita ao Egito, no Museu Arqueológico Egípcio, pode-se ver as inscrições proto-semíticas de Serabit al-Khadem. Podemos ver mais coisas relacionadas, talvez, ao Sinai. Entre as muitas esculturas e pinturas de Hathor em forma de vaca, pode-se ver também uma estátua de uma vaca ou bezerro, cujo interior está revestido em parte de ouro.
Há muito tempo se pensa que o bezerro de ouro feito pelos israelitas se originou na cultura egípcia. Agora pergunto, em vista da descoberta das vacas douradas, se não era a cultura egípcia em geral. Talvez diante dos olhos dos filhos de Israel estivesse a bezerra dourada de Hathor, que é popular no Egito e que pode até ter sido retratada em um templo em Serabit al-Khadem – Horebe? Essa foi a descrição egípcia, o oposto, para a divindade israelense que apareceu a Moisés no mesmo lugar.
É concebível que muitos dos que visitaram Serbit – um lugar muito interessante por si só – no sul do Sinai, ficassem surpresos ao ler sobre esta hipótese, que atribui a ela tanto santidade quanto conexão com as viagens dos filhos de Israel. Mas se eles mergulharem nessa hipótese e nos argumentos que a acompanham, provavelmente irão entendê-la melhor.
Sem dúvida alguma, em se tratando de indícios arqueológicos, o montes em Serabit al-Khadem é o melhor candidato ao Monte Sinai