Desvendando a essência da Parábola da Figueira

figo na figueira em modiin

Ora, de manhã, ao voltar à cidade, teve fome; e, avistando uma figueira à beira do caminho, dela se aproximou, e não achou nela senão folhas somente; e disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti. E a figueira secou imediatamente. Quando os discípulos viram isso, perguntaram admirados: Como é que imediatamente secou a figueira? Jesus, porém, respondeu-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até, se a este monte disserdes: Ergue-te e lança-te no mar, isso será feito; e tudo o que pedirdes na oração, crendo, recebereis. Mt. 21:18-22

Por muitos anos ouvi falar por parte de pessoas descrentes, de que a Parábola da Figueira é um exemplo da falta de senso de Yeshua, que ao passar por ela, não achando fruto, a amaldiçoou, destinando-a a secar e ser usada como lenha para o forno. Muitos até usaram-na como exemplo para desfilar palavras de anti-semitismo e teologia da substituição, dizendo que se o Povo de Israel não deu frutos, então foi amaldiçoado e secou até morrer, perdendo a primazia diante de Adonai.

O fato é que mesmo morando em Israel por mais de 20 anos, ainda não tinha parado para observar se a figueira é realmente algo sazional ou não, ou seja, se ela dá fruto somente uma vez por ano. Se isso fosse verdade, isto reforçaria o contexto dos hipócritas e descrentes, pois a maldição sobre a figueira poderia ser considerada um ato de vingança contra o Povo de Israel pela “rejeição” do Messias, segundo eles.

Tudo indica que há uma relação com evento ocorrido com Yeshua aos pés do Monte das Oliveiras e a parábola que ele mencionou no Livro de Lucas dizendo:

E passou a narrar esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; e indo procurar fruto nela, e não o achou. Disse então ao viticultor: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente? Respondeu-lhe ele: Senhor, deixa-a este ano ainda, até que eu cave em derredor, e lhe deite estrume; e se no futuro der fruto, bem; mas, se não, cortá-la-ás. Luc. 13: 6-9

Ao contrário da alegação de que ambos os textos estão relacionados com uma profecia de restauração de Israel, que está descrita em Mat. 24:32

Aprendei, pois, da figueira a sua parábola: Quando já o seu ramo se torna tenro e brota folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas essas coisas, sabei que ele está próximo, mesmo às portas.

Mas é muito importante notar que em ambos os casos anteriores, a figueira não deu frutos, foi condenada a morte, na primeira ela secou, e na segunda ela deveria ser arrancada. Mas em Mat. 24:3 está se falando de uma figueira normal, uma figueira frutífera, o que demonstra que ela já vai brotar as folhas e logo a seguir dará também fruto.

Por acaso, depois de tantos anos resolvi pesquisar um pouco mais sobre a figueira e seu período de colheita, e descobri que no hemisfério norte, o auge de sua colheita é nos meses de Julho e Agosto. O evento em que Yeshua foi buscar fruto na figueira foi provavelmente no começo de Abril, logo após o “Domingo de Ramos”. Muitos pregadores tem alegado que nesta época não há fruto maduro, mas o fato é que Yeshua procura qualquer fruto e o texto não diz que procura maduro. Analisando os dados sobre a produção de figos, descobri que na realidade, uma figueira pode dar fruto o ano todo, não importando a estação, tudo vai depender apenas da quantidade de água que ela recebe, e com certeza, no sopé do Monte das Oliveiras, ela receberia água o suficiente para frutificar o ano todo.

Hoje, antes de escrever este artigo, resolvi pela primeira vez verificar se isso é realmente possível, e descobri que sim, alguns metros de minha residência encontrei uma pequena figueira, no começo do mês de Fevereiro, um dos mais frios e invernais em Israel, e “milagrosamente”, eis que haviam figos nela. Finalmente pude entender que o foco da parábola não está no fato de Yeshua ter amaldiçoado a figueira para nos ensinar o princípio da fé, este é mais um ensinamento, mas não a essencial dele. A figueira nos dois casos, seja em Mt. 21:18-22 ou em Luc. 13: 6-9, não está representando Israel, mas sim nós mesmos.

Nós fomos criados como uma figueira, a humanidade em Adão e Eva até mesmo se escondeu com as folhas e dentro de uma figueira conforme podemos ler aqui:

Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.
E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, dentro da árvore do jardim. Gen. 3:7-9 (tradução direta do Hebraico)

Tanto a maldição e a parábola nos ensinam que como coroas da criação do Eterno, fomos criados com dois objetivos principais em nossas vidas, e note como justamente dar fruto é o primeiro, e nos foi dado como imperativo, como mandamento eterno, mesmo antes de haver Povo de Israel, mesmo antes de Abraão e seus descendentes, e milhares de anos antes de haver até mesmo a Torah. Pelo visto, este é o verdadeiro ensino que devemos aprende r aplicar em nossas vidas:

Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. Gen. 1:27-28

Tudo indica que a interpretação de que a figueira amaldiçoada é Israel tinha um objetivo, e era apontar para outros ao invés de revelar onde precisamos nos conscientizar, quando apontamos um dedo para os outros, os outros quatro dedos de nossa mão apontam para nós. Creio que está na hora de entendermos a relação entre a figueira seca e a fé que são descritas na mesma parábola. Yeshua imediatamente fala sobre a importância da fé em nossas vidas. A fé que nos permite frutificar é a mesma que nos permite amaldiçoar uma figueira infrutífera. Se não temos fé para “movermos montanhas”, sendo frutíferos, então estaremos fadados ao mesmo destino da figueira infrutífera.

Adonai nos chama hoje, não para clamarmos, ordenarmos ou gritarmos diante dELE o que cremos que é o melhor para nós, aquilo que ELE me deve, aquilo que tenho por direito. ELE nos chama a mudarmos nossas mentes, nos tornarmos como os lírios do campo que não semeiam e nem colhem, mas o PAI os faz crescer e se tornam as flores mais belas que existem. Frutificar em uma árvore, significa reproduzir-se. Quando um fruto cai em terra, ele germina e gera uma nova árvore, que não é exatamente como você é, mas recebeu boa parte do seu DNA, o seu caráter, os seus valores, e se seu fruto é bom, esta nova criatura terá o mesmo destino, crescerá e irá se reproduzir também, dando bom fruto, a tempo e fora de tempo. Hoje podemos continuar em nosso caminho, “frutificando para nós mesmos”, ou seja, tornando-nos estéreis, ou podemos clamar ao Dono do Campo, Adonai, para que ele nos pode, coloque “estrume”, e derrame sobre nós a graça de sermos verdadeiramente frutíferos.

Acho que finalmente podemos entender a essência da Parábola da Figueira,
desde Sião, Miguel Nicolaevsky

Foto acima: Figo na Figueira em pleno inverno na Cidade de Modiin, em Israel – Miguel Nicolaevsky

2 thoughts on “Desvendando a essência da Parábola da Figueira

  1. Um entendimento que tenho é que , quando Jesus fala da figueira diz que está cheia de folhas mas não dá frutos , Ele fala isso logo depois de sua entrada triunfal em Jerusalém , entendo que ele fala que apesar dos judeus terem a palavra a thora eles não o reconheceram na thora então Ele diz que não darão frutos secarão reafirmando o que Deus falou ao profeta Isaías no cap 6 que os olhos não echergariam e os ouvidos não ouviriam porq Ele seguiria até que chegasse o fim dos tempos , assim dizendo , quando o profeta pergunta até quando . Já em Matheus 24 Ele volta a falar da figueira que seria como sinal , quando ela voltasse a florescer , isso me diz que quando os olhos dos judeus se abrissem e entendessem que Yeshua e o seu Mashia , a geração que visse isso iria sinalizar que o fim está próximo , o grande números de Judeus reconhecendo Yeshua como seu Mashiah tem aumentado a cada ano , depois da florada vem os frutos , então esses judeus anunciarão o evangelho a judeus e não judeus por todo o mundo como cumprimento das profecias , embora a plenitude disso só será realmente no fim . Me de sua opinião se meu pensamento está correto . Já que a palavra tem camadas mais e mais profundas . Obrigada

Comments are closed.