Dízimo, uma questão de fé e não de números
”וּבָרוּךְ֙ אֵ֣ל עֶלְי֔וֹן אֲשֶׁר־מִגֵּ֥ן צָרֶ֖יךָ בְּיָדֶ֑ךָ וַיִּתֶּן־ל֥וֹ מַעֲשֵׂ֖ר מִכֹּֽל“
(Genesis 14:20 HMT-W4)
A primeira vez em que a palavra dízimo aparece na Bíblia está em Genesis 14:20
“Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos! E ele deu-lhe o dízimo de tudo.”
(Genesis 14:20 ALMEIDA)
A palavra em Hebraico para dízimo é Maasser que significa literalmente um décimo ou a décima parte. Minha preferência para a tradução é “um décimo”, pois a conotação de a décima parte é de que ela é a última das dez, e a conotação de “um décimo” é de que é a primeira das dez partes. Para tornar isto mais claro, poderia traduzir como a primeira de uma série de dez partes.
Outro texto que aparece o mesmo contexto porém utilizando uma palavra um pouco diferente é em relação a visão de Jacó da escada que se elevava até os ceús, onde podemos ler:
”וְהָאֶ֣בֶן הַזֹּ֗את אֲשֶׁר־שַׂ֙מְתִּי֙ מַצֵּבָ֔ה יִהְיֶ֖ה בֵּ֣ית אֱלֹהִ֑ים וְכֹל֙ אֲשֶׁ֣ר תִּתֶּן־לִ֔י עַשֵּׂ֖ר אֲעַשְּׂרֶ֥נּוּ לָֽךְ“
(Genesis 28:22 HMT-W4)
“Então esta pedra que tenho posto como coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.”
(Genesis 28:22 ALMEIDA)
Bem, neste versículo está escrito Assor, ou seja, dizimarei no sentido de separar a décima parte.
O Dízimo de Tudo
Bem, para não entrar muito na questão de valores, é muito importante lembrar que estes dois versículos mostram algo muito interessante. Ambos os dizimastes declararam que daria o dízimo de tudo. Eles não dizimaram das riquezas, não dizimaram do dinheiro, dizimaram de tudo. Então o que é realmente dizimar?
Em uma interessante explicação em nossa congregação, Dr. Rey Pritz, um dos mais importantes nomes em tradução da bíblia para o inglês em minha opinião, nos dias de hoje, fez um panorama bíblico muito interessante sobre o dízimo.
Rey lembrou que na antiguidade, mais precisamente no período israelita, dar o dízimo não era uma tarefa mensal.
Note que em Levíticos, o dízimo era dado até mesmo dos animais:
“Quanto a todo dízimo do gado e do rebanho, de tudo o que passar debaixo da vara, esse dízimo será santo ao Senhor.”
(Levíticos 27:32 ALMEIDA)
Note que até mesmo os levita, aqueles que deveriam servir no templo e em todas a cidades de Israel, ensinando e ministrando ao povo, tinham que dar o dízimo:
“Também falarás aos levitas, e lhes dirás: Quando dos filhos de Israel receberdes os dízimos, que deles vos tenho dado por herança, então desses dízimos fareis ao Senhor uma oferta alçada, o dízimo dos dízimos.”
(Números 18:26 ALMEIDA)
Em Deuteronômio aprendemos a mais detalhada forma de dar o dízimo, ele não deveria ser feito onde vivemos, mas sim no local onde Adonai escolheu para que habite a sua presença, nesta caso, durante o período do VT o dízimo era para ser trazido ao templo em forma de dinheiro. Mas note que não só ao templo, mas também para ser consumido na presença do Senhor, onde está o templo.
“Dentro das tuas portas não poderás comer o dízimo do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, nem os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas, nem qualquer das tuas ofertas votivas, nem as tuas ofertas voluntárias, nem a oferta alçada da tua mão; mas os comerás perante o Senhor teu Deus, no lugar que ele escolher, tu, teu filho, tua filha, o teu servo, a tua serva, e bem assim e levita que está dentre das tuas portas; e perante o Senhor teu Deus te alegrarás em tudo em que puseres a mão. Guarda-te, que não desampares o levita por todos os dias que viveres na tua terra.”
(Deuteronômio 12:17–19 ALMEIDA)
No mesmo texto que trata do dízimo, o Senhor também nos ensina que parte do processo é também gozar do dízimo e da oferta. Oferecer o holocausto, o sangue deveria ser derramado, a carne a usada para consumo. Aqui aprendemos que ela era utilizada para consumo dos sacerdotes e também dos que ofertavam.
“Somente tomarás as coisas santas que tiveres, e as tuas ofertas votivas, e irás ao lugar que o Senhor escolher; oferecerás os teus holocaustos, a carne e o sangue sobre o altar do Senhor teu Deus; e o sangue dos teus sacrifícios se derramará sobre o altar do Senhor teu Deus, porém a carne comerás.”
(Deuteronômio 12:26–27 ALMEIDA)
Em 1 Samuel aprendemos que o pecado do povo em pedir um rei levou-os a dizimar para o rei. Agora o povo colocou sobre si mais um dízimo, o que havia de praticar para o Senhor e agora o dízimo real. Sendo que partir de agora 20% já não seria mais seu, mas deveria ser consagrado.
“Tomará e dízimo das vossas sementes e das vossas vinhas, para dar aos seus oficiais e aos seus servos. Também os vossos servos e as vossas servas, e os vossos melhores mancebos, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho. Tomará o dízimo do vosso rebanho; e vós lhe servireis de escravos. Então naquele dia clamareis por causa de vosso rei, que vós mesmos houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvira.”
(1 Samuel 8:15–18 ALMEIDA)
Em 2 Crônicas aprendemos que durante o povo trouxe voluntariamente durante três meses uma grande abundância de dízimos e ofertas, de forma que foi necessário a construção de salas para abrigar tanta abundância.
“Além disso ordenou ao povo que morava em Jerusalém que desse a porção pertencente aos sacerdotes e aos levitas, para que eles se dedicassem à lei do Senhor. Logo que esta ordem se divulgou, os filhos de Israel trouxeram em abundância as primícias de trigo, mosto, azeite, mel e todo produto do campo; também trouxeram em abundância o dízimo de tudo. Os filhos de Israel e de Judá que habitavam nas cidades de Judá também trouxeram o dízimo de bois e de ovelhas, e o dízimo das coisas dedicadas que foram consagradas ao Senhor seu Deus, e depositaram-nos em montões. No terceiro mês começaram a formar os montões, e no sétimo mês acabaram.”
(2 Crônicas 31:4–7 ALMEIDA)
Rei Pritz explicou que bem como a colheita levava cerca de 3 meses, da mesma forma o dízimo era um processo longo, ele não era feito todos os anos. Apenas nos anos de produção, ou seja, se você planta-se uma oliveira que leva cerca de 7 anos para produzir, o dízimo dela só viria no sétimo ano. Além disso, as pessoas não tinham salário conforme temos hoje, portanto, o dízimo era provavelmente anual. Talvez este seja o motivo pelo qual as Festas de Israel eram comemoradas três vezes ao ano, pois é justamente nestes períodos diferentes que o povo de Israel tinha diferentes oportunidades de ofertar ou dizimar. Mas o texto de Levíticos demonstra que na realidade o processo do dízimo era feito uma vez a cada três anos conforme podemos ler aqui:
“Ao fim de cada terceiro ano levarás todos os dízimos da tua colheita do mesmo ano, e os depositarás dentro das tuas portas.”
(Deuteronômio 14:28 ALMEIDA)
Ou seja, dentro dos limites da Cidade Santa, o local escolhido por Adonai para ser o centro de adoração nacional do povo de Israel.
Yeshua aponta para o verdadeiro sentido do dízimo, e ele não tem nada haver com a questão quantitativa conforme lemos a seguir:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.”
(Mateus 23:23 ALMEIDA)
Será que os fariseus estavam fazendo errado? Bem, está claro que numericamente falando eles eram campeões, estavam calculando até mesmo o dízimo do que aparentemente é minúsculo. Porém Yeshua adverte que o principal estavam omitindo. E o que seria esta omissão? Bem, creio que a resposta está nos versículos a seguir:
“O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ó Deus, sê propício a mim, o pecador!”
(Lucas 18:11–13 ALMEIDA)
O problema real do fariseu é que ele estava seguindo ao pé da letra a lei mosaica, a Torah. Porém ele estava esquecendo o essencial:
“Amarás, pois, ao Senhor teu Deus, e guardarás as suas ordenanças, os seus estatutos, os seus preceitos e os seus mandamentos, por todos os dias.”
(Deuteronômio 11:1 ALMEIDA)
Ele até cumpria os mandamentos, mas esquecia dos “preceitos” que melhor traduzido seria, “sua justiça”, ou seja, exatamente o que está escrito em Levíticos:
“Ao fim de cada terceiro ano levarás todos os dízimos da tua colheita do mesmo ano, e os depositarás dentro das tuas portas.
Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), o peregrino, o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o Senhor teu Deus te abençoe em toda obra que as tuas mãos fizerem.”
(Deuteronômio 14:28–29 ALMEIDA)
Ou seja, o dízimo tinha uma missão espiritual e social em primeiro lugar. Portanto, se o dízimo que você entrega hoje não tem estes dois focos, não faz sentido dizimar.
O Dízimo nos Evangelhos
Nos ensinamentos de Yeshua, o dízimo aparece somente três vezes conforme podemos ler aqui:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.
Mas ai de vós, fariseus! porque dais o dízimo da hortelã, e da arruda, e de toda hortaliça, e desprezais a justiça e o amor de Deus. Ora, estas coisas importava fazer, sem deixar aquelas.
Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho.”
(Mateus 23:23; Lucas 11:42; 18:12 ALMEIDA)
Todas as três vezes em conotações negativas. Não vemos em nenhum dos ensinos do Mestre algum dos seus discípulos ou seguidores de uma forma geral, um exemplo de dizimista. Porém vemos exemplos sim de pessoas que foram muito além do dízimo. Os discípulos por sua vez abandonaram tudo, deixando para trás tudo que tinham, até mesmo suas famílias, para seguir o mestre. A viúva no templo que entregou a moeda que era tudo o que ela tinha. Maria, a mulher em Betânia que derramou o recipiente de nardo puro, cujo valor excedia o do salário anual de uma soldado romano. José de Arimatéria que entregou um sepulcro novo para sepultar o corpo do mestre. Este era um túmulo escavado na rocha que somente ricos poderiam ter. Outros arriscaram tudo para estar com o Mestre como a esposa Clôpas, o administrador da casa de Herodes, que poderia perder a cabeça se fosse entregue pelos outros. Tudo isso podemos aprender na passagem a seguir:
“Logo depois disso, andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e iam com ele os doze, bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios. Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana, e muitas outras que os serviam com os seus bens.”
(Lucas 8:1–3 ALMEIDA)
O Mestre não precisa de nossos recursos, ELE é o Senhor de Todas as coisas, o criador e sustentador de tudo e todos. O que aprendemos com texto acima é que ELE não está interessado realmente em 10% de nosso dinheiro. Ele está interessado em 100% de nosso coração, de nossas almas. “Entregar o dízimo” é o esperado do velho pacto, da lei. Mas os da nova aliança são chamados a servi-lo com seus bens. Ou seja, com nossas mentes, nossos corações, nossos queridos familiares, nossas vidas, nosso tempo, eles e elas largaram para seguir ao Mestre, servindo com tudo, inclusive seus bens materiais, este é o verdadeiro dizimar.
É muito comum ouvirmos nos púlpitos pregadores que se dizem da nova aliança utilizarem os exemplos da velha aliança para justificar os dízimos e ofertas nas igrejas. Mas no momento em que é necessário eles pulam para a nova aliança, onde a graça e a misericórdia abundantes. Porém eles se esquecem que com a nova aliança, as exigências aumentaram. Se antes adulterar era se deitar com uma mulher, agora é olhar ou pensar desejando uma mulher alheia. Se matar era esfaquear ou atirar em alguém, hoje é desejar a sua morte. Da mesma forma se aplica na questão de dízimos e ofertas. Se no passado era trazer dez por cento de sua colheita e subir a Jerusalém, nos dias de hoje é se dedicar ainda mais ao Senhor.
As pessoas que serviram o ministério de Yeshua não trouxeram para o templo em Jerusalém, nem para os levitas, nem mesmo para os sacerdotes, elas trouxeram para onde viram que havia necessidade. Será que Yeshua e seus discípulos morreriam de fome se não houvessem mulher que os serviam com seus bens? A resposta é óbvia, claro que não. Alguém que alimentou 5.000 pessoas não passaria fome. Ele na realidade somente permitia a elas o privilégio de participar de seu ministério. Da mesma forma, quando você quiser fazer parte de um ministério que vem do coração de Adonai, saiba que Adonai não precisa de seu dinheiro, do seu tempo, de nada seu. ELE só está te dando o privilégio de tomar parte em seu plano maravilhoso de redenção.
Então, agora que conhecemos a real motivação divina para o mandamento do dízimo e das ofertas, podemos ter o privilégio de escolher fazer parte disso. O privilégio de ir muito além daquele fariseu que cumpria o mandamento e se orgulhava disso. Adonai não precisa realmente de nossos recursos, ele quer ter um relacionamento pessoal conosco, e a melhor forma de aprendermos sobre isso, é aprender a depender dELE em tudo, inclusive em nossas finanças.
Finalizando, gostaria de lançar um desafio nesta área de dízimos e ofertas. Lembre-se que Adonai nos incentiva a ir muito além de 10% de nosso salário. Ele deseja 100% de nossas vidas. Se ainda não está preparado para viver assim, comece pensando em que área você ainda não alcançou seus 10% para o Senhor. Tempo é dinheiro, quantas vezes já ouvimos isto e nunca fizemos nada para mudar isso? Dedique pelo menos 10% de seu tempo servindo ao Senhor em alguma outra área, talvez na área espiritual. Se isso der certo, dizime 10% também para a area social, talvez ajudando órfãos e viúvas, talvez coletando e(ou) distribuindo alimentos. Acrescente posteriormente mais 10% no ensino ou no estudo da Palavra de Adonai. Por experiência própria sei que Adonai abrirá as janelas dos céus para te abençoar. Ele te dará sabedoria não somente para não diminuir suas entradas financeiras, ao contrário, elas crescerão. Em cada passo de fé, virão ondas de dificuldades, mas não recue, algo maravilhoso está para acontecer em cada luta que surgir. Seremos testados, provados, aperfeiçoados e amadurecidos. Um dia quem sabe, alcançaremos exatamente aquilo que Abraão e Jacó almejaram, dar o dízimo de tudo.
Desde Sião,
Miguel Nicolaevsky, diretor do cafetorah.com Reviving the Bible – Revivendo a Bíblia