Luís Martins de Sousa Dantas nasceu na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1876 e era um diplomata brasileiro que viveu por muito tempo na França.
Sob ofício da missão diplomática brasileira na França, concedeu vistos para o Brasil a vários judeus e outros parte das minorias perseguidas pelos Nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, contrariando a política do governo Vargas.
O resgate da história de Luís Martins de Sousa Dantas deve-se ao professor Fábio Koifman em seu livro “Quixote nas trevas”.
Luís Martins de Souza Dantas foi proclamado Justo entre as nações no ano de 2003 em Jerusalém, título atribuído somente a pessoas consideradas nobres por terem arriscado suas vidas afim de ajudar os judeus perseguidos pelo regimes nazista e fascista, e a fugirem da morte durante a Segunda Guerra Mundial.
Após concluir os estudos de direito aos 21 anos de idade, Souza Dantas ingressou no Ministério das Relações Exteriores do Brasil durante o período republicano. Rapidamente conseguiu subir em todos escalões da carreira diplomática e servindo em diversas capitais ao redor do mundo.
No ano de 1916, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi nomeado ministro interino das Relações Exteriores e durante alguns meses foi o responsável pelo Itamaraty chegando ao posto de embaixador no ano de 1919, quando passou a chefiar a representação diplomática brasileira em Roma, na Itália
No final do ano de 1922, Souza Dantas foi nomeado embaixador do Brasil na França, cargo em que permaneceu até o ano de 1944. Em 1931, já era o decano do corpo diplomático em Paris, ou seja, o embaixador há mais tempo em atividade na capital francesa. Em 1940, com a iminente invasão alemã no norte da França, o governo francês se retirou para o sul da França, instalando um governo colaboracionista na cidade de Vichy.
Naturalmente, o corpo diplomático dos outros países acompanhariam o governo, mas os registros demonstram que a atitude de Souza Dantas foi outra, pois já vinha intercedendo em favor de refugiados do nazismo desde a sua saída de Paris.
Foi comprovado seu envolvimento pessoal e direto como embaixador, quando começou a emitir os primeiros vistos diplomáticos “irregulares” assinados em próprio punho, o que contrariava a norma. A maioria desses documentos foram concedidos já em Vichy e beneficiavam não apenas judeus, mas também homossexuais, comunistas e qualquer pessoa que se sentia ameaçada pelo crescente nazismo.
De acordo com a legislação vigente na época, era raro um embaixador conceder pessoalmente um visto, e isto só costumava ser feito em casos excepcionais. Para um “indesejável” receber um visto – mesmo o que se encaixava nas poucas exceções pré-estabelecidas, era necessário apresentar uma série de documentos, como atestados negativos de antecedentes criminais, de “não ser de conduta nociva à ordem pública”, de saúde e prova de profissão lícita, entre outros. Na época era quase impossível conseguir este tipo de documentação, visto que a grande maioria era de refugiados que se encontravam longe de seus países de origem. A autoridade diplomática brasileira que emitia o visto tinha a obrigação de informar a “origem étnica” do estrangeiro, o que muitas vezes era omitido.
A grande maioria das pessoas que solicitavam os vistos era apátrida, portadoras de passaportes “Nansen” – fornecidos pela Liga das Nações para indivíduos expatriados por causa de problemas políticos, perseguições e etc. Outras nem mesmo possuíam qualquer tipo de documento para viajar.
Muitos eram provenientes de países que se encontravam extintos naquele momento, devido aos conflitos e as constantes conquistas nazistas ou estavam debaixo de governos que não os reconheciam mais como cidadãos. A exigência de uma série de documentos e certidões para imigrantes tinha a função de impedir a entrada de refugiados ou foragidos no Brasil.
No mesmo dia em que Luís Martins de Souza Dantas deixou Paris rumo a Vichy, no caminho, ao passar por cidades como Perpignan e Bordeux ele começou assinar passaportes e documentos de viagem para os estrangeiros, em sua maioria refugiados. Não eram pessoas “especiais” ou “importantes”, mas a grande maioria de pessoas comuns.
Ele não seguiu nenhuma regra do governo brasileiro, não exigiu taxas, transferências bancárias, declarações ou atestados, e tampouco perguntou ou informou a alguém a origem étnica dos pretendentes, poupando assim a vida de muitas pessoas cujo destino seria os campos de concentração ou extermínio.
Cerca de 500 vistos diplomáticos foram emitidos por Luís Martins de Souza Dantas entre meados de junho de 1940 a 12 de dezembro – data em ele foi proibido formalmente de conceder qualquer tipo de visto pelo governo brasileiro
Entretanto, de acordo com depoimentos, muitos refugiados estiveram com o embaixador nos primeiros meses de 1941 e continuaram a receber vistos com datas anteriores a 12 de dezembro de 1940. Ou seja, ele ainda continuou a conceder alguns vistos, mesmo depois de ter sido repreendido e proibido pelo governo brasileiro.
Por causa da presença de soldados brasileiros na guerra, as notícias da resistência de Luís Martins de Souza Dantas à invasão da embaixada em Vichy e de seu longo internamento na Alemanha, os jornais brasileiros passaram a tratá-lo como herói. Mas a transformação do diplomata que estava sendo agora processado pelo governo em herói não agradou muito ao ditador Getúlio Vargas.
Rapidamente, as notícias de homenagens a Souza Dantas foram caçadas da imprensa brasileira que era controlada rigidamente pelo Estado. Enquanto durou o Estado Novo, Getulio Vargas tratou de abafar a fama do diplomata fora de evidência no Brasil. Somente após a queda da ditadura de Vargas em 1945 é que o velho embaixador saiu do anonimato graças à influência política de seus antigos companheiros do Itamaraty.
Já aposentado, Luís Martins de Souza Dantas foi convidado pelo Ministério das Relações Exteriores para chefiar a delegação brasileira na Primeira Assembléia Geral das Nações Unidas, em Londres, entre 10 de janeiro e 14 de fevereiro de 1946. O embaixador foi o primeiro brasileiro a discursar neste órgão precursor da ONU. Luís Martins de Souza Dantas passou os últimos anos de sua vida em Paris, falecendo em 1954, mesmo ano da morte de Getulio com 78 anos de idade.
Esta história de Luís Martins de Souza Dantas nos faz lembrar que Deus nos coloca muitas vezes em cargos e posições de destaque afim de sermos instrumentos de salvação ou mesmo benção para os seus filhos amados, tanto gentios quanto judeus. Histórias como destes brasileiros nos fazem lembrar a história da Rainha Ester que foi utilizada por Adonai afim de livrar o seu povo das mãos do terrível Hamã.
Luís Martins de Souza Dantas morreu em Paris, em 16 de abril de 1954, aos 78 anos. Seja Abençoada a Sua Memória!
Desde Sião, Miguel Nicolaevsky
Grato por DEUS ter o filho Miguel para nos falar de um ilustre brasileiro do passado. Deus abençoe você e familia sempre, Miguel!