Para quem vive em Israel, e estudou neste país, ou mesmo se interessa e conhece a história do sionismo moderno, Ze’ev Jabotinsky é sem dúvida alguma uma figura muito importante. Ze’ev Jabotinsky era escritor, poliglota e político, ninguém mais influenciou o pensamento da sociedade moderna do que este homem, quem em seus poucos dias de vida, morrendo aos 58 anos, deixou marcas profundas na política e pensamento judaico sionista, além de Theodor Herzl, o pai do sionismo moderno.
Existem duas coisas na história de Ze’ev Jabotinsky que estão relacionadas a minha família, a primeira delas, é o fato de que ele, nasceu em 1880, na cidade de Odessa, na Ucrânia, vivendo nela sua infância e juventude. Minha avó nasceu na cidade de Odessa, e em 1940, ela, junto com seus país, fugiram do terror da Segunda Guerra Mundial, por sinal, no mesmo ano em que Jabotinsky faleceu nos Estados Unidos.
Ze’ev Jabotinsky, judeu de pai e mãe, cresceu e ao sete anos foi levado a estudar em uma escola local, mas logo sofreu muito com isso, principalmente por não ser considerado o “eslavo” e de uma forma geral, aos judeus estavam destinadas as menores possibilidades na sociedade européia oriental.
Ze’ev Jabotinsky, bem como muitos judeus no Mundo inteiro, não se intimidou e se acomodou, ele amava literatura e idiomas, era um auto didata, e como tal, começou a traduzir e a escrever literatura. Jabotinsky falava, lia e escrevia 7 idiomas, o Hebraico, Russo, Idish, Inglês, Alemão, Francês e Italiano, além de entender muitos outros.
Aos 17 anos Ze’ev Jabotinsky traduziu um poema surpreendente do Inglês para o Russo e para o Hebraico, e talvez, foi justamente este poema que marcou a sua vida, e a sua morte. Jabotinsky se destacou muitas vezes, seja como escritor em jornais, seja em roteiros, poesia ou até em discursos. Seu nível intelectual e idiomático estava muito acima da média. Ele até mesmo inovou usando radicais do Italiano e o Espanhol no Hebraico Moderno.
Índice
A Vida Política, os Judeus e o Holocausto
Quanto mais Jabotinsky amadurecia, mais se envolvia no movimento sionista, ele foi o autor e fundador de muitas idéias e instituições que influenciaram muito os primeiros anos do futuro Estado de Israel, mesmo não tendo o privilégio de vê-lo se realizar.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Ze’ev Jabotinsky foi o responsável pela criação da Legião Judaica, o primeiro corpo militar judaico no então império britânico. Além disso, ele foi o mentor de importantes organizações para militares na Terra de Israel, durante o mandato britânico.
Os pogroms em Kishnev, Império Russo e a mudança de direção
Em 1903, ocorreu na região da Moldova nos dias de hoje, na então Bessarábia, mais especificamente na cidade de Kishnev, o primeiro de um dos mais violentos atos contra os judeus antes da Primeira Guerra Mundial. Os pogroms eram atos de vandalismo e assassinatos praticados pelos russos, apoiados primeiramente pelo antigo império e posteriormente pelos marxistas, contra as comunidades judaicas.
No pogrom de Kishinev de 1903, 49 judeus foram mortos, centenas de feridos, 700 casas destruídas e 600 empresas saqueadas. No mesmo ano, ocorreram pogroms em Gomel (Bielorrússia), Smela, Feodosiya e Melitopol (Ucrânia). A selvageria extrema foi tipificada por mutilações dos feridos. Eles foram seguidos pelo pogrom de Zhitomir (com 29 mortos), e pelo pogrom de Kiev de outubro de 1905, resultando em um massacre de aproximadamente 100 judeus. Em três anos entre 1903 e 1906, cerca de 660 pogroms foram registrados na Ucrânia e na Bessarábia, meia dúzia a mais na Bielorrússia, todos realizados com a cumplicidade do governo russo.
Ainda em 1903, Jabotinsky visitou a cidade de Kishinev, e aqui se dá a segunda relação com a minha família. Meu avô nasceu nesta cidade, e se não fosse os progroms e o apelo de Jabotinsky aos judeus para buscarem um novo destino, talvez nossa família não tivesse sobrevivido aos outros progroms que ocorreram a seguir. Felizmente, em 1904, meu avô, junto com sua família, e muitos da comunidade judaica, deixaram a Rússia, formando a Colônia Judaica de 4 irmãos em Philipson, hoje, na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul.
Ze’ev Jabotinsky visitou as comunidades de Kishnev em 1903, e desde então, algo profundo aconteceu com ele. Ele viu seu povo sofrendo, e pairando sobre eles a foice da morte na forma do anti-semitismo. Jabotinsky então se tornou o fundador do movimento sionista revisionista, cuja principal bandeira, era forçar uma imigração judaica em massa, pois acreditava que os judeus poderia ser exterminados na Europa.
Jabotinsky se casou com Hanna (ou Ania) Galperina em outubro de 1907. Eles tiveram um filho, Eri Jabotinsky, que mais tarde se tornou membro do Bergson Group, inspirado na Irgun. Eri Jabotinsky mais tarde se tornou um renomado matemático no Estado de Israel, ele também serviu brevemente no 1º Parlamento de Israel e morreu em 6 de junho de 1969, deixando decendentes que ainda vivem no país.
Baseado no terror que viu Ze’ev Jabotinsky acreditava que somente através da organização militar e treinamento, os judeus poderiam se defender dos ataque que vinham sofrendo. Jabotinsky se opôs ao sionismo socialista de David Ben Gurion que punha a comunidade e a formação de um lar judaico como meta principal, ele dizia que o mais importante era o indivíduo, depois o estado.
Ze’ev Jabotinsky estava dividido entre seu mundo cultural, como escritor, poliglota, artista e seu mundo real, as organizações, instituições e política. Além de viver seus conflitos, o temor pela vida de milhões de judeus o levou a viver mais em movimento do que em família. Jabotinsky fazia de tudo para a causa judaica, a retirada dos judeus da Europa e a imigração para Israel, mesmo que os britânicos tivessem proibido a mesma.
Em 1935, apenas três anos antes da Segunda Guerra Mundial se iniciar, novamente em movimento, Jabotinsky visita novamente as comunidades judaicas na Europa Oriental, principalmente na Polônia, e o que ele vê leva-o a fazer uma declaração assustadora, implorando que seus compatriotas judeus deixem a região, pois temia que eles sejam exterminados.
Já em 1923, Ze’ev Jabotinsky, previa o Holocausto que destruiria os judeus da Europa duas décadas depois. Os líderes sionistas no Mundo e em Israel preferiram ignorá-lo na melhor das hipóteses, outros o chamavam de “Hitler”, considerando-o um facista.
O Corvo e Jabotinsky
O primeiro poema traduzido por Ze’ev Jabotinsky em 1907, que mencionei no começo deste artigo, parece ter muito a ver com este que foi sem dúvida alguma um dos maiores líderes judaicos no sionismo moderno.
O poema de origem gótica contra a história de um homem que ouve algumas batidas em sua porta, abrindo-a não vê ninguém e fecha a porta a seguir. Então, ele houve algumas batidas na janela, corre para abri-la e então vê um corvo voando em sua direção e pousa dentro de sua residência. Um diálogo extenso se inicia entre o homem e o corvo, como ele costumava fazer com seus amigos, mas o corvo somente responde “nada mais”. Depois de muito falar, e o corvo responder somente a mesma coisa, por fim, o homem morre subitamente diante do corvo.
Mesmo não tendo Ze’ev Jabotinsky escrito o poema, parece haver uma relação subjetiva entre ele e o mesmo, notem a semelhança do caso.
Em 1940, após diversas jornadas de Ze’ev Jabotinsky em sua cansada busca de apoio para formar uma força judaica defensora na Terra de Israel, ele se encontra nos Estados Unidos. Em um momento, na cidade de New York ele se encontra com jovens judeus de Beitar, uma das organizações de treinamento que ele havia criado. Então ele para sua jornada cumprimentá-los, e enquanto falava com eles, bem como na história do poema, teve um infarto súbito e morreu no local.
Sepultura de Ze’ev Jabotinsky
Durante o império britânico, por causa das tentativas de Ze’ev Jabotinsky em formar uma força de defesa judaica e criar estruturas para militares para defender o país, os britânicos decidiram cancelar sua autorização para viver em Israel, forçando-o a diáspora.
Depois que o Estado de Israel foi fundado em 1948, Jerusalém passou a ser a capital do país, e em 1949 foi criado o cemitério dos “honrados da nação”. Em 1964, os restos mortais de Jabotinsky e sua esposa Hanna Jabotinsky, de acordo com uma segunda cláusula de seu testamento, foram enterrados no cemitério Mount Herzl, em Jerusalém, por ordem do então primeiro-ministro israelense Levi Eshkol.
Escrito Por Miguel Nicolaevsky, Israel, 20 de Julho de 2020
Na realidade ele não é meu parente. Eu escrevi que ele nasceu na mesma cidade de minha avó. Além disso, esteve visitando os judeus após os atos de violência, na mesma cidade onde meu avô nasceu. Realmente a semelhança com meus parentes é grande, mas não somos parentes não.
Miguel que história fantástica,esse seu parente se parece muito com vc sem dúvida,mas ele foi seu bis avô?
Na realidade ele não é meu parente. Eu escrevi que ele nasceu na mesma cidade de minha avó. Além disso, esteve visitando os judeus após os atos de violência, na mesma cidade onde meu avô nasceu. Realmente a semelhança com meus parentes é grande, mas não somos parentes não.